quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quem se orgulha de morar nesta cidade-currutela?


Porto Velho 95 anos: Feliz Desaniversário!


Professor Nazareno*


O jornalista norte-americano H.L.Mencken afirma que quando se ouve um homem falar de seu amor por seu país, podem saber que ele espera ser pago por isto. A mesma coisa acontece quando se refere a uma cidade. Ainda que aqui houvesse coisas para os habitantes poderem se orgulhar, falar bem de Porto Velho só por muito dinheiro mesmo. A cidade foi emancipada em 1914, mas ninguém sabe direito qual a origem do nome. Uns dizem que foi em homenagem a um ancião chamado Pimentel daí o porto do velho Pimentel. Outros acham que é por causa das imundices que há no porto da cidade: é um porto velho mesmo, ou seja, um barranco sujo, fedorento, cheio de lixo, esgoto a céu aberto e ratazanas.

A estrutura da cidade é feia e sem sentido, parece um cemitério se vista do alto. Sem nenhum planejamento urbano, a nossa capital lembra uma currutela. As ruas não têm retorno e como é uma cidade pobre, é naturalmente horizontal. Edifícios quase não há por aqui. Apenas 03 podem ser vistos no skyline: um é torto e está condenado, o outro, próximo à Rua Jorge Teixeira, tinha estrutura para dez andares e só foram erguidos seis, portanto é baixo demais e o terceiro, na Rua Lauro Sodré, tinha estrutura e licença para 11 andares, mas foi construído com 12, diminuindo assim a altura dos apartamentos. O lugar tem um único hospital de pronto-socorro, o João Paulo Segundo, “onde os pacientes numa semana estão esparramados pelo chão, e na outra semana, não há mais chão”.

A capital de Rondônia pode não ser uma zona, mas está dividida em várias: a Zona Sul, por exemplo, que tem na Rua Jatuarana o seu principal centro de comércio só tem uma entrada e uma saída e por isso convive diariamente com um trânsito infernal. Já a Zona Leste é considerada a mais violenta da capital. Embora a Câmara de Vereadores não tenha aprovado o serviço de moto táxi, andar neste tipo de transporte na cidade é uma coisa fácil e corriqueira. Os mais ufanistas dizem que isto aqui é habitado por 500 ou 600 mil pessoas. Mentira. Segundo o IBGE, a população urbana e a rural não passam de 382 mil habitantes. Ou seja, na sede do município não há mais do que 280 ou 300 mil almas. No Estado de São Paulo, por exemplo, há 15 cidades maiores e mais populosas do que isto aqui que é uma capital.

A Fundação Getúlio Vargas divulgou um relatório há pouco mais de dois anos informando que dentre as capitais, Porto Velho ostenta o penúltimo lugar em IDH ficando à frente apenas de Belém, a linda e arborizada capital paraense. Talvez esta informação esteja equivocada, pois mesmo localizada em plena Amazônia, a capital de Rondônia é uma das cidades menos arborizada do país contrastando com João Pessoa, na seca Paraíba, que é a campeã em área verde. De fato, quase não se vêem árvores nas nossas esburacadas, sujas e sinuosas ruas. Água tratada e esgotos quase não há por aqui. O calor é infernal mesmo sendo esta uma povoação beiradeira. O trânsito é caótico e a cidade, mesmo sendo de médio porte, é uma das mais violentas do Brasil. Em nossas invasões (favelas) só produzimos violência.

Porém a coisa mais bizarra de Porto Velho são os seus habitantes. Aqui, quando um monumento natural desaparece sob o impacto de uma mega-construção, o povo faz festa de despedida em vez de protestar. Bordéis existem e ficam ao ar livre mesmo. São vários. E não falta público. A cidade tem até uma tal de “calçada da fama”. Os portovelhenses estão construindo viadutos e passarelas achando que vão resolver o problema do trânsito. S. Paulo não resolveu. Porém o mais inusitado é a possível construção de uma ponte sobre o rio Madeira ligando literalmente o nada (Porto Velho) à coisa alguma já que do outro lado do rio não há qualquer vila, povoado ou aglomeração urbana que justifique este gasto inútil de dinheiro público.

Quando a Revista Época esteve aqui, constatou o óbvio, ou seja, que Porto Velho é um “buraco quente” e não uma cidade organizada, ninguém sabe por que muitos caipiras locais ainda esbravejaram. E de lá para cá nada mudou. O lugar continua sem praças, sem espaços públicos e com as ruas empoeiradas ou lamacentas ainda pontilhadas de lixo e sujeiras. Deve ser por esse motivo que nunca mandaram um militar de alta patente para nos administrar. O primeiro prefeito foi um Major, vindo do Amazonas, depois mandaram uma penca de coronéis do centro-sul do país para governar o resto do território que mais tarde viraria estado. Nunca um general apitou nada por estas bandas. Feliz ou infeliz aniversário?



*É professor em Porto Velho


Nenhum comentário:

Postar um comentário