Vamos perder o bonde da História
Professor Nazareno*
Há um bom tempo que não se ouve falar de outra coisa em Rondônia: com as obras do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, o dinheiro está “entrando a rodo” no nosso Estado. E é até possível observar na capital como o volume de obras pode ser uma demonstração da veracidade deste pensamento. Há realmente muitas construções sendo tocadas e muitas outras já projetadas: construção do CPA, Centro Político Administrativo, duplicação da BR 364, asfaltamento de algumas ruas e avenidas, construção de viadutos e passarelas, melhoria no saneamento básico de vários bairros, água encanada onde antes só havia poços, dentre outras.
Obras estas que os habitantes podem ver, se deslumbrar e acreditar que o dinheiro está sendo bem empregado pela classe política. Todo mundo fica feliz, fala em progresso e desenvolvimento, se enche de ufanismo bobo e alardeia para os quatro cantos do mundo que aqui se trabalha, que os nossos políticos são os melhores do mundo. Ledo engano: claro que toda cidade necessita de obras de infra-estrutura e como
O CPA era uma necessidade, todos concordam. Mas não entendi por que os prédios, se vistos do alto, formam as letras ‘I’ e ‘C’. Erros de projetos ou simples culto à personalidade? Mas é bom, assim não haverá a necessidade de colocar nome de político oportunista na construção, pois o povo daqui não sabe nomear de forma coerente os seus monumentos. Já os viadutos parecem ser mais uma tolice de quem quer mostrar serviço. Problemas de trânsito se resolvem com abertura de mais ruas para escoamento de carros, com mais sinalização, retornos e principalmente a melhoria no sistema de transportes coletivos. Parece até que os rondonienses querem ver nomes de políticos nas obras.
Mais do que obras faraônicas, o nosso Estado precisa de educação e cultura. Precisa investir em seu futuro, precisa se precaver da ressaca que fatalmente virá com o término destas construções. Os ciclos da borracha, do ouro, da cassiterita vieram e se acabaram deixando apenas conseqüências nefastas. Devíamos ter aprendido alguma coisa. Com toda esta grana, quantas universidades estaduais ou mesmo municipais poderiam ser criadas? Poderíamos criar centros de pesquisas voltados para a demanda do mercado interno e escolas para formar mestres e doutores. Se hoje há dinheiro, devíamos sim, pensar no futuro com vários campi universitários espalhados pelo Estado.
Só que estamos seguindo o exemplo da Venezuela, que está perdendo uma excelente oportunidade de se transformar em uma grande potência regional com o dinheiro do petróleo. Já a Coréia do Sul e o Japão investiram tudo em educação e cultura e em menos de 30 anos já estavam colhendo os frutos. Rondônia e os rondonienses estão mais para a rompança latino-americana do que para a visão de mundo e a disciplina oriental. Qualquer universidade de fundo de quintal seria melhor do que a Unir. E se faltar bons profissionais, viriam os de fora para nos ajudar a não perder mais este bonde da História.
*Leciona
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