A “in-FELICIDADE” de ser professor!
Professor Nazareno*
O dia 15 de outubro não deveria ser dedicado a nós professores. “É muito pouco para quem tanto fez e ainda faz pelo progresso e pelo desenvolvimento do Brasil”, devem pensar alguns incautos e desinformados. Com todo este progresso e todo este desenvolvimento que estamos vendo por aí é de se pensar o que nós, os mestres, estamos fazendo realmente por este país, periferia de capitalismo. Talvez, por isso, recentemente o MEC divulgou na mídia uma propaganda mostrando o progresso e o desenvolvimento que existem de fato em vários países do mundo: o responsável? Ora, o professor, pronunciado em vários idiomas.
No Brasil, a realidade é outra e completamente diferente. E o entrave maior não é o salário. Nunca foi. Também não é a indisciplina de alguns alunos ou a sujeira existente dentro das salas de aula. Muito menos as constantes brigas do nosso sindicato com os governantes de plantão nem as perseguições ridículas de alguns diretores de escolas. O nosso maior problema é que temos uma sociedade que não valoriza a educação. Da porta da sala de aula para fora, talvez menos de dez por cento dos brasileiros vêem na escola alguma função que se possa associar à vida cotidiana. Daí, a “bola de neve” cresce e é absorvida espertamente pelos políticos. Até os do PT.
Salário de professor no Brasil é menos do que muitas prostitutas ganham para lavar pratos. No entanto, baixo salário não é problema. Os médicos de Porto Velho, por exemplo, ganham na maioria das vezes salários astronômicos e a saúde local está um caos. É preciso observar quem de fato exerce dignamente a sua função. Quem realmente tem compromisso com a educação e o futuro deste país. Um bom professor não pode ganhar a mesma coisa que um mau professor. Por isso, é comum ouvirem-se afirmações de que há professores que ganham mal pelo muito que fazem, enquanto outros ganham muito bem pelo pouco que desempenham em sala de aula.
Nos países cujas sociedades valorizam o estudo, a educação, o que se vê é uma multiplicação de oportunidades e um franco progresso e desenvolvimento a exemplo da Coréia do Sul, Japão, Holanda, Bélgica, Finlândia, Estados Unidos, etc. O imperador japonês, por exemplo, presta reverência a qualquer professor que vá visitá-lo. Imagine-se Ivo Cassol, Lula ou Roberto Sobrinho, que é psicólogo, fazerem isto a um professor. O nosso Presidente e o Governador do Estado têm, juntos, menos anos de estudos do que um camelô ou um gari. Ainda assim, o nosso país é um dos que mais investem
Professor é azarado mesmo. São poucos os que sabem escrever um bom texto ou raciocinar de forma consciente. E quando tentam fazê-lo, quando ousam mostrar o pouco ou o quase nada que sabem, seus raros leitores já o vêem como um sujeito depressivo, infeliz, ranzinza ou pedante e põem logo em xeque a sua capacidade profissional ou tentam calá-lo ameaçando o seu diminuto salário. Muitas pessoas acreditam que professor é sempre um sujeito de boa educação, polido, paciente e que deveria escrever somente aquilo que os hipócritas gostariam de ler. Eu, por exemplo, tenho um Blog com meia dúzia de leitores: eu mesmo, minha esposa quando tem tempo, minha filha quando eu a obrigo, e mais duas ou três pessoas.
Apesar de tudo, ser professor é ser feliz, é saber que na sociedade se exerce a função de cabeça, a função de conduzir os outros. “Quem faz aquilo de que gosta não precisa trabalhar”. Mas a educação e o professor ainda vão custar muito a alcançar valor neste país de “jecas”, nesta nação de pouca visão educacional, neste submundo dominado pelo maniqueísmo e pela astúcia de poucos. Haverá um dia em que greve de professores será por melhorias no sistema de educação e não pela insana vontade de ganhar tanto quanto ganham as empregadas domésticas, os garis, os cobradores de ônibus e outras categorias tão importantes para a sociedade, mas que não precisaram defender nenhuma tese de mestrado ou doutorado.
*É professor
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