Passeata gay: falta de consciência política?
Professor Nazareno*
Com o objetivo de promover o lançamento da 7ª Parada do orgulho LGBT de Porto Velho que será realizada no dia 11 de outubro de 2009 com o tema: “Sem homofobia, mais cidadania”, o Grupo Gay de Rondônia concede entrevista coletiva, envolve a mídia falada e escrita, cita autoridades, cria sensacionalismo estéreo, convoca para reunir, reúne para convocar, faz e acontece na fixa e equivocada idéia de produzir algo de extremamente útil aos seus seguidores e participantes. Não se pode discutir o direito de quem quer que seja de fazer reuniões, passeatas ou desfiles. Além de ser legal é perfeitamente aceitável pelo fato de vivermos em uma democracia.
No entanto, estes desfiles têm em alguns casos, despertado a reação da sociedade mais conservadora. A Marcha para Jesus pode ser um exemplo. No ano passado os religiosos dizem ter colocado mais de três milhões de seguidores nas ruas de São Paulo. Todas estas manifestações são importantes, mas infelizmente focam na direção errada uma vez que desviam a atenção dos problemas que realmente deveriam ser enfrentados pela sociedade civil organizada. Viver uma vida de orientação sexual diferenciada ou adorar a Cristo não resolve os gargalos que fazem do nosso país uma das sociedades mais atrasadas e injustas do mundo.
Por isso, colocar 100 mil pessoas nas ruas de Porto Velho apenas para dizer que aceitam o que é diferente é um desperdício. Assim como cinco milhões nas ruas de São Paulo. E tantos outros milhões em outras cidades deste país. Essas pessoas "de orientação sexual diferenciada" deviam "emprestar" apenas 10% deste contingente para sair às ruas reivindicando melhorias no Hospital João Paulo Segundo, mais ética na política ou por uma educação pública de qualidade, por exemplo. Teriam tais atos, talvez, muito mais praticidade e consciência política do que fazer passeatas que muitas vezes afrontam esta mesma sociedade vítima deste Estado incompetente.
Além do mais, estes mesmos desfiles são vistos por muitos como pura e simples apologia às drogas e outros tipos de entorpecentes. Os nossos problemas são muito maiores e de uma dimensão muito superior a simples desfiles carnavalescos em tom de deboche. Discriminação e homofobia são crimes e devem ser encarados e punidos como tal. Já há legislação pertinente para isso sem precisar de passeatas que sujam as ruas e mostram o verdadeiro caráter dos gays, lésbicas e afins: falta-lhes, na maioria dos casos, visão crítica e participação política e acima de tudo demonstram ter uma mentalidade baseada na premissa de que tudo é festa, tudo é manchete, tudo é brincadeira.
Gays, lésbicas e religiosos unidos com o restante da população para exigir e reivindicar os seus direitos e a sua cidadania é o que falta a Rondônia e ao restante do Brasil. O mundo é muito mais cruel do que "purpurinas e desfiles". Se todas as pessoas que se dizem discriminadas e perseguidas no Brasil e no mundo tivessem que fazer desfiles e passeatas, teríamos que permitir ou assistir às mulheres, os negros, os hemofílicos, os pobres, e mais um montão de pessoas se organizando para tão somente sujar as já imundas ruas deste país e desta cidade. Porém se estas pessoas usassem seu poder de persuasão para cobrar um Estado competente em suas vidas, o país mudaria.
*É professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário