quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Quem vence, fala!


“O vencedor fica com tudo”


Professor Nazareno*


O título deste texto é também o mesmo de uma música do grupo musical sueco ABBA que fez sucesso nos últimos anos 70 e 80 em todo o mundo. “The winner takes it all” era o nome original, em inglês, da música que embalou multidões de jovens e que mostrava na letra apenas desilusões amorosas. Mas é incrível como a fantasia insiste em copiar a realidade ou vice-versa. Na História da humanidade sempre foi assim. A versão contada é sempre a do vencedor. Quem perdeu geralmente está morto no campo de batalha e nada pode contar, quase não existe a versão de quem não ganhou uma guerra.

Os Nazistas, por exemplo, não triunfaram durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso a versão mais aceita deste episódio que marcou a História da humanidade será sempre a dos Aliados e vencedores do conflito. Que os Nazistas foram cruéis, parece não haver dúvidas. Mas e os norte-americanos com Hiroshima e Nagasaki foram bonzinhos? Os massacres perpetrados contra a população civil anos depois pelos “ianques” na guerra do Vietnã não contam? Por que quando se fala de Hitler e seus seguidores primeiro não se mencionam as imposições do Tratado de Versalhes que tanto humilharam a Alemanha?

No início da década de 90 quando o Capitalismo triunfou sobre os regimes do Leste Europeu, os holofotes logo se viraram para denunciar as mazelas do Comunismo. Caiu o Muro de Berlim, um símbolo erguido pelos comunistas, mas ninguém percebeu e nem a mídia falou que em apenas 20 anos foram erguidos no mundo pelo menos três outros muros: um separando os israelenses do povo palestino, outro entre os Estados Unidos e o México para conter a onda migratória dos mexicanos e o outro no Brasil, nas favelas do Rio de Janeiro, para “evitar construções e deter a especulação imobiliária”.

No Brasil, quando a Ditadura Militar caiu de podre, veio a Nova República com propostas de mudanças na sociedade. Tivemos uma Constituinte, conquistamos amplas liberdades em todas as áreas, avançamos na área dos Direitos Humanos, viramos país emergente, mas nada falamos das conquistas que aconteceram na época do Milagre Econômico ainda no início da década de 1970. Para muitos historiadores, aquele tempo foi marcado principalmente pela repressão política, pela tortura, falta de democracia e pelos temidos DOI-CODI. Hoje, falar mal dos militares brasileiros dá até Ibope.

Por isso, é preciso muito cuidado quando se falar bem (ou mal) de um governante, qualquer que seja ele. Em Rondônia, se o Governador Ivo Cassol perder o mandato sob a acusação de compra de votos será execrado publicamente pelos seus adversários. Se for absolvido, virará herói e passará para a História política deste lugar como um semideus. Tenha feito coisas erradas ou não. E como na letra da canção dos ABBA, “O vencedor leva tudo/ O perdedor fica menor/ Ao lado da vitória/ Está o seu destino”, ou seja, a vitória tem muitos e incontáveis pais, mas a derrota é órfã.


*É professor em Porto Velho


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