Rondon, descrito pelo cientista Edgar Roquette-Pinto como “o ideal feito homem”, construiu mais de seis mil quilômetros de linhas telegráficas. Outra importante missão desse militar e engenheiro estava concluída: ele colocava o gigante estado do Mato Grosso no mapa, ligando-o também a Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e região sul, permitindo sua expansão econômica, e mostrava à então pouco amistosa Argentina que o Brasil estava pronto para repelir qualquer tentativa de crescimento, em nossa direção, de sua província de Misiones.
As linhas telegráficas, que os índios bororo e pareci chamavam de “língua de Mariano”, seriam utilizadas por décadas, apesar de, ainda no início do século XX, o cientista italiano Guglielmo Marconi registrar a primeira patente do telégrafo sem fio e fazê-lo funcionar com êxito comercial. Mas Cândido Rondon iria surpreender o mundo com muito mais: ele aplicou em nome do Exército Brasileiro, e da própria nação, uma política humanitária no trato com os índios.
A política de hoje, de todos os países do mundo para suas minorias populacionais, continua baseada naquela que Rondon e seus colaboradores formularam em 1910, no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). E a chancela dessa política planetária é da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).Descendente de índios bororo, guaná e terena, Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu no Mato Grosso, em 5 de maio de 1865.Órfão de pai e mãe ainda criança pequena, foi criado por um tio que o enviou ao Rio de Janeiro para os estudos militares e “ser alguém na vida.” Em 1889, aos 24 anos de idade, Rondon foi nomeado ajudante do então major Antonio Ernesto Gomes Carneiro na Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas, no Mato Grosso. É com esse oficial (“o único chefe que eu tive”) que ele se definiu como uma das mais generosas figuras da Humanidade. O militar narrou para a escritora Ester de Viveiros, sua biógrafa no livro “Rondon conta sua vida”: “Gomes Carneiro se revelou o grande conhecedor do problema indígena, o nobre defensor dos donos das terras que atravessávamos, nossos irmãos das selvas. Proibiu, terminantemente, em cartazes que mandou afixar ao longo da linha telegráfica, que neles se atirasse, ainda que fosse para os assustar: “Quem dora em diante, tentar matar ou afugentar os índios de suas legítimas terras, terá de responder, por esse ato, perante a chefia da Comissão”. Rondon anotaria, mais tarde, em seu diário da selva que entre os anos de 1892 e 93, “fui, desde logo, estabelecendo o lema que nortearia todo o meu trabalho no sertão, em relação a nossos irmãos, os índios: “morrer, se necessário for; matar, nunca.”Como todo gênio humanista, Rondon era um homem simples, de bom trato, amigo das pessoas, sem qualquer distinção. Na hora da comida, em meio à selva densa, era o último a fazer a refeição: “(...) o chefe fica com as sobras. (...) A comida é, antes de tudo, para o soldado.
(...) Minha maior preocupação era manter alto o ânimo da turma.” Em seu fervor militar e positivista, fazia atos solenes em datas históricas. No dia 7 de setembro mandava hastear a bandeira, tocava o hino nacional num gramofone e soltava fogos de artifício. Os índios se aproximavam, ariscos e curiosos e logo entravam na festa.
Fez, em 1913/14, uma difícil e histórica expedição científica à Amazônia, com o ex-presidente Theodore Roosevelt, dos Estados Unidos. Eles cumpriram um percurso de três mil quilômetros, descobriram e percorreram um rio de 712 quilômetros, o rio da Dúvida, formado pelos rios Castanha e Ariapuanã. Em homenagem ao estadista americano, Rondon batizou o rio com o nome de Roosevelt. A expedição levou, para o Museu de História Natural, de Nova York, uma coleção de 2.500 aves, 500 mamíferos, répteis, batráquios, peixes e insetos, muitos desconhecidos pela ciência.O primeiro princípio de Rondon, “morrer, se preciso for, matar nunca”, foi formulado no começo deste século quando, devassando os sertões impenetrados de Mato Grosso ia de encontro às tribos mais aguerridas, com palavras e gestos de paz, negando-se a revidar seus ataques, por entender que ele e sua tropa eram os invasores e, como tal, se fariam criminosos se de sua ação resultasse a morte de um índio.”
As linhas telegráficas, que os índios bororo e pareci chamavam de “língua de Mariano”, seriam utilizadas por décadas, apesar de, ainda no início do século XX, o cientista italiano Guglielmo Marconi registrar a primeira patente do telégrafo sem fio e fazê-lo funcionar com êxito comercial. Mas Cândido Rondon iria surpreender o mundo com muito mais: ele aplicou em nome do Exército Brasileiro, e da própria nação, uma política humanitária no trato com os índios.
A política de hoje, de todos os países do mundo para suas minorias populacionais, continua baseada naquela que Rondon e seus colaboradores formularam em 1910, no Serviço de Proteção aos Índios (SPI). E a chancela dessa política planetária é da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).Descendente de índios bororo, guaná e terena, Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu no Mato Grosso, em 5 de maio de 1865.Órfão de pai e mãe ainda criança pequena, foi criado por um tio que o enviou ao Rio de Janeiro para os estudos militares e “ser alguém na vida.” Em 1889, aos 24 anos de idade, Rondon foi nomeado ajudante do então major Antonio Ernesto Gomes Carneiro na Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas, no Mato Grosso. É com esse oficial (“o único chefe que eu tive”) que ele se definiu como uma das mais generosas figuras da Humanidade. O militar narrou para a escritora Ester de Viveiros, sua biógrafa no livro “Rondon conta sua vida”: “Gomes Carneiro se revelou o grande conhecedor do problema indígena, o nobre defensor dos donos das terras que atravessávamos, nossos irmãos das selvas. Proibiu, terminantemente, em cartazes que mandou afixar ao longo da linha telegráfica, que neles se atirasse, ainda que fosse para os assustar: “Quem dora em diante, tentar matar ou afugentar os índios de suas legítimas terras, terá de responder, por esse ato, perante a chefia da Comissão”. Rondon anotaria, mais tarde, em seu diário da selva que entre os anos de 1892 e 93, “fui, desde logo, estabelecendo o lema que nortearia todo o meu trabalho no sertão, em relação a nossos irmãos, os índios: “morrer, se necessário for; matar, nunca.”Como todo gênio humanista, Rondon era um homem simples, de bom trato, amigo das pessoas, sem qualquer distinção. Na hora da comida, em meio à selva densa, era o último a fazer a refeição: “(...) o chefe fica com as sobras. (...) A comida é, antes de tudo, para o soldado.
(...) Minha maior preocupação era manter alto o ânimo da turma.” Em seu fervor militar e positivista, fazia atos solenes em datas históricas. No dia 7 de setembro mandava hastear a bandeira, tocava o hino nacional num gramofone e soltava fogos de artifício. Os índios se aproximavam, ariscos e curiosos e logo entravam na festa.
Fez, em 1913/14, uma difícil e histórica expedição científica à Amazônia, com o ex-presidente Theodore Roosevelt, dos Estados Unidos. Eles cumpriram um percurso de três mil quilômetros, descobriram e percorreram um rio de 712 quilômetros, o rio da Dúvida, formado pelos rios Castanha e Ariapuanã. Em homenagem ao estadista americano, Rondon batizou o rio com o nome de Roosevelt. A expedição levou, para o Museu de História Natural, de Nova York, uma coleção de 2.500 aves, 500 mamíferos, répteis, batráquios, peixes e insetos, muitos desconhecidos pela ciência.O primeiro princípio de Rondon, “morrer, se preciso for, matar nunca”, foi formulado no começo deste século quando, devassando os sertões impenetrados de Mato Grosso ia de encontro às tribos mais aguerridas, com palavras e gestos de paz, negando-se a revidar seus ataques, por entender que ele e sua tropa eram os invasores e, como tal, se fariam criminosos se de sua ação resultasse a morte de um índio.”
*Valdeci Ribeiro, especialista em Historia Regional e Rondônia
www.sociologiaemtela.blogspot.com
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