quarta-feira, 24 de junho de 2009

Rondônia em estado de guerra

Professor Nazareno*


Um ditado popular afirma que quando os ratos estão se mexendo no porão é por que o navio está prestes a afundar. Claro que Rondônia não é nenhuma embarcação, mas por aqui há muitos roedores inquietos ultimamente. De um lado, o governador do Estado, Ivo Cassol com o seu inseparável chapéu, sotaque caipira e uma multidão de fiéis seguidores. Do outro, Roberto Sobrinho, prefeito da capital, um arremedo de professor e psicólogo e ex-líder sindical. Ambos estão no segundo mandato de seus respectivos cargos. Foram talvez reeleitos não por causa da competência que juram possuir, mas por absoluta falta de opção do nosso minúsculo e alienado eleitorado. O primeiro é catarinense de Concórdia, o segundo é paulista.
Enganam-se os que pensam que isto aqui vive dias intranqüilos como o Irã dos aiatolás ou a insegurança do Iraque dos carros-bomba. A nossa situação é bem pior do que os dois países citados. Rondônia não pode ser comparada nem a Darfur no Sudão ou a Biafra, Somália e Eritréia na África miserável. Enquanto nessas regiões e no Oriente Médio a refrega se dá por motivos políticos, étnicos e às vezes até religiosos, em terras rondonienses os nossos líderes ensaiam um sururu por causa do vil metal mesmo, o dinheiro, a pura ambição. Afinal de contas, a terra dos Uru-Eu-Wau-Wau já está acostumada ao ‘ronco do trabuco’. A imagem que o Brasil tem de Rondônia certamente não é das melhores. Até senador da República já foi metralhado por aqui.
Recentemente em visita a Porto Velho, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, apresentou balanço regional das obras do PAC em Rondônia. Participaram os ministros das Cidades, Marcio Fortes, e dos Transportes, Alfredo Nascimento. O total de investimentos em saneamento e habitação no estado é de mais de 1,3 bilhões de reais. Mas há muito mais dinheiro que pode ser despachado para cá. A Ministra teria anunciado cifras astronômicas que chegariam a mais de 16 bilhões de reais e isto sem falar na construção das hidrelétricas do Madeira, nos viadutos, etc. A visão da administração petista é dividir o bolo antes que ele esteja pronto, resumiu a futura candidata à Presidência da República.
Com tanto dinheiro em jogo não é difícil entender por que os nossos mandatários estão com os nervos à flor da pele. Todo mundo anuncia imediatamente ‘parcerias’ com o Governo Federal. Os principais sites de notícias da região, aqueles da imprensa marrom, e os outros meios de comunicação se esmeram em apresentar matérias que elogiam ou denigrem a imagem das autoridades dependendo do caso. “O queijo está em cima da mesa e os ratos embaixo dando voltas para ver quem fica com o maior quinhão, para ver quem abocanha a maior parte.” O espectador desta luta livre, deste boxe tupiniquim, desta falta de vergonha, é o povão, o eleitorado. É esta a visão bem resumida da nossa decepcionante situação atual.
Passeatas são convocadas para apoiar um ou outro nesta contenda. É o prefeito das obras inacabadas contra o governador que pode ser cassado a qualquer momento. Infelizmente estão todos, governador, prefeito e respectivos seguidores, totalmente errados. Rondônia representa menos de meio por cento das riquezas nacionais. O número de nossos eleitores é algo desprezível: em torno de 0,8 por cento do eleitorado do país. Para o Brasil, a nossa importância é muito próxima de zero. E não devemos nos iludir: o restante do país só está nos olhando por causa das hidrelétricas. Se nossos representantes fossem rondonienses e gostassem mesmo desta terra, ficariam unidos e lutariam pelos recursos de que tanto precisamos. Como dividir um bolo inacabado?



* O professor Nazareno leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho

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