domingo, 6 de dezembro de 2009

Rondônia tem História?


Os “zeróis” de Rondônia


Professor Nazareno*


Quase todos os países e nações do mundo baseiam sua história na bravura e nos feitos de alguns de seus filhos ilustres. Difícil não entender por que os franceses têm na figura do ditador Napoleão Bonaparte um de seus ícones, os ingleses homenagearem o almirante Nelson, além dos seus reis e rainhas e os norte-americanos verem em Abraão Lincoln, George Washington, Martin Luther King e até no pervertido John Kennedy exemplos de pessoas que devem permanecer na História dos seus lugares como verdadeiros heróis. São pessoas que, de uma forma ou outra, marcaram o seu tempo. Imprimiram a sua forte presença nos manuais de História ensinados nas escolas.

Até o Acre tem os seus heróis. Chico Mendes, que esteve à frente de sua realidade ao defender o meio ambiente quando ninguém tinha consciência ou coragem para fazê-lo, é endeusado no mundo inteiro como um defensor da floresta e herói do seu tempo. O humilde seringueiro de Xapuri foi reconhecido nos cinco continentes e recebeu, além do reconhecimento, muitos prêmios internacionais. Marina Silva, amiga e contemporânea do "amigo da floresta", apesar de ter pertencido durante muito tempo ao PT, o “partido dos mensaleiros”, atualmente desponta no Brasil com uma liderança política capaz de fazer frente aos mais conhecidos e renomados políticos do país.

Rondônia não tem heróis, nunca teve e nem também ninguém que tenha se destacado sequer a nível nacional ou mesmo regional. Carlos Ghosn, presidente da Nissan, nascido em Porto Velho em 1954, se naturalizou francês. José Maurício Bustani, porto-velhense nascido em 1945, talvez nunca mais tenha vindo aqui depois que foi embora e se formou pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a PUC, em 1967. Quem conhece alguma declaração deles falando sobre sua terra de origem? A maioria dos coronéis que governaram isto aqui morreu nos seus estados de origem sem ao menos lembrar da existência das “Terras Karipunas”.

Além de não ter heróis, Rondônia quase não tem história também. Os rondonienses demoraram mais de 29 anos para entender que a data da criação do seu próprio Estado coincidia com a lei que transformara o antigo Território Federal de Rondônia em Estado. Todo mundo sabe, há muito tempo, que a data em que nascemos não é a data em que fomos registrados. Óbvio isto. O dia 04 de janeiro (tem até bairros na capital com este nome) foi comemorado inutilmente durante todo este tempo pelo povo daqui como se fosse tudo normal, com direito até a feriado estadual e comemorações. Devemos rasgar todos os livros de História Regional ou reescrevê-los?

Foi preciso um acreano da gema, Odacir Soares, propor a mudança de datas ao governo local. Guardadas as devidas proporções, é a mesma coisa que dizer a um brasileiro nato, e que tenha estudado o suficiente, que 22 de abril de 1500 é a data da Inconfidência Mineira. “Os grandes incentivadores e defensores da cultura local”, assim como os historiadores da região também não perceberam isto, ou não se interessaram? Não tiveram visão suficiente para entender “o difícil e complicado” jogo de datas que sempre homenageia os vencedores em detrimento dos vencidos. Será que estamos precisando mesmo de heróis?


*É professor em Porto Velho.

Um comentário:

  1. O ódio doentio pela terra que te acolheu enseja uma boa visita a um médico. Mas o tratamento será longo. Talvez, melhor seja uma viagem à Paraíba, mas sem passagem para o retorno.

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